Arnaldo era um homem comum
Falava que nada o afligia
Exceto a falta de dinheiro
Porém ganhou na loteria

Recebeu uma grande bolada
Teve o sonho realizado
Pensou: d’agora pra frente
Nada mais pode dar errado

Como agora tinha dinheiro
Correu ao encontro de Maria
Mas não deu para conquistar
O amor que ele tanto queria

Acometido de mal súbito
Soube na cama do hospital
Que a vida lhe seria curta
Tal raridade era seu mal

A assistência médica cara
Por um tempo afastou o perigo
Então ele vagou pelas ruas
Pois não tinha família ou amigos

Viu homens perdidos nas ruas
Vivendo tal qual animais
Crianças sem banco de escola
Pedindo esmolas em sinais

Viu os esgotos à céu aberto
Longas filas esperando o osso
Alimentos vindos do lixo
Causas de revolta e desgosto

Alguns desejos pessoais
Ele até pode resolver
Mas as mazelas sociais
Só detentores do poder

Pra ser feliz basta dinheiro
Fantasia de um senso torto
Ele não traz felicidade
Mas pode comprar o conforto